Jogo das Cores Proibidas
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Lev Semenovich Vygotsky, nasceu em 5 de
novembro de 1896 na cidade de Orsha, país da extinta URSS. Filho de uma
família muitíssimo bem estruturada, e de alto poder aquisitivo, teve até
os 15 anos professores particulares. Tanto ele quanto seus sete irmãos, tinham
acesso a uma grande biblioteca, que ficava no amplo apartamento onde
moravam. Isso facilitava e estimulava o fascínio de Vygotsky pelos
estudos. Somente após completar 15 anos, é que teve contato com uma
escola convencional, onde permaneceu até concluir o curso secundário.
Logo após, ingressou na Universidade de Moscou, para cursar direito, mais
por status, que por vocação. Segundo Marta Khol, Vygotsky tinha grande
interesse por literatura, psicologia, história, filosofia, psicanálise,
tanto é que paralelamente a faculdade de direito, procurou a universidade
popular de Shanyavsky para fazer os cursos que lhe pareciam interessantes
e que foram o alicerce de sua vida profissional. Após formar-se em direito em 1917, voltou
para Gomel onde lecionou literatura e psicologia. Sua volta deu-se devido
a não conseguir permissão para ficar em Moscou
por seus pais e por sai namorada, com que vem a se casar tempos
depois, mesmo já estando tuberculoso. Houve um período na história de Vygotsky,
considerado vazio, pois não houve nenhuma publicação de suas teses.
Esse período deu-se de 1917 a 1923 e ainda merece explicações Em 1924, participou de um congresso em
Leningrado, mesmo sendo totalmente desconhecido. Sua participação neste
congresso, a princípio, não obteve a menor credibilidade. Todos
questionavam quem seria Vygotsky. Para espanto geral, Vygotsky surpreendeu
aos seus interlocutores e sua teoria e exposição, foi aplaudida de pé.
Em razão disso, recebe do reitor da universidade de Moscou um convite de
trabalho, implantando o curso de psicologia. Em virtude disso, muda-se
para Moscou com sua família e passa a viver nos porões da universidade,
o que prejudicou seu estado de saúde. Nota-se aí a discrepância vivida
por Vygotsky: antes em convívio com o luxo, e agora vivendo em condições
sub-humanas, pois depois do porão veio o quarto superlotado, onde passou
a morar com a mulher e suas duas filhas. (A decadência financeira de sua
família deu-se devido à revolução popular contra o Czar) É interessante ressaltar que Vygotsky
dedicava-se exclusivamente ao
trabalho, pois possuía uma quantidade enorme de trabalhos editoriais e
pesada carga de aulas. Seus ataques freqüentes de tuberculose, e seu convívio
nos sanatórios impediam sua concentração, tanto é que em razão de sua
saúde debilitada, nos últimos anos de sua vida, passou a ditar a seus
colaboradores suas teorias, e recusava-se a viver: vivia deprimido e
queria a morte. Vygotsky faleceu aos 37 anos em Moscou e
deixou 200 trabalhos científicos escritos, ditados e anotados. SÍNTESE TEÓRICA: Ele
não formulou uma concepção estruturada do desenvolvimento humano, que
pudéssemos a partir daí interpretar o processo da construção psicológica
do homem, do nascimento até a idade adulta como fizera Piaget. O que este
teórico oferece, são reflexões e dados de pesquisas sobre vários
aspectos do desenvolvimento. O
conceito mais importante para entendermos as teorias vygotyskyana sobre
como funciona o cérebro humano é a mediação.
De acordo com Vygotsky, "mediação...
é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação;
a relação deixa, então de ser direta e passa a ser mediada por esse
elemento”.
Acrescenta ainda que " A mediação é um processo essencial para tormar possível atividades
psicológicas voluntárias, intencionais, controladas pelo próprio indivíduo” É
através do processo de mediação que o indivíduo se relaciona com o seu
meio social e, é relevante observar que, através da mediação simbólica
é que os homens têm possibilidades de desenvolverem suas funções
psicológicas. A mediação simbólica é um instrumento
intermediário que o indivíduo utiliza
para estabelecer um relação entre “sujeito e objeto”. Devemos
observar que na relação do homem com o mundo, este, utiliza-se de
instrumentos materiais e
instrumentos psicológicos. Portanto, pode-se afirmar que os elementos
responsáveis pelo processo de mediação, são os instrumentos e os
signos . O primeiro, são ferramentas materiais que irão regular a
atividade externa do homem. São tidos como um recurso entre homem e
objeto de conhecimento, sendo capazes de ampliar as possibilidades de
transformação da natureza. Eles são feitos ou até mesmo buscados para
um certo objetivo e irão carregar consigo a função para a qual foram
criados. São também um objeto social e mediador da relação entre
homem-mundo. Sua função é provocar mudanças nos objetos e
controlar processos da natureza. É
importante lembrar que animais também se utilizam de instrumentos, mas de
forma rudimentar. Ainda que esses instrumentos exerçam função mediadora
entre indivíduo e objeto, Vygotsky entende como sendo diferentes dos
instrumentos humanos. Os animais não são capazes de criar instrumentos
com objetivos específicos, e também não guardam esses instrumentos para
serem utilizados. Tampouco usam como conquista a ser passada aos do grupo
social. Eles têm a capacidade de transformar o ambiente num momento
exclusivo, mas não têm a capacidade de cultivar sua relação com o
meio, num processo histórico-cultural, como acontece com os seres
humanos. O
segundo elemento são ferramentas que auxiliam o homem nos processos
psicológicos, sendo internos ao indivíduo. Com a ajuda dos signos o
homem é capaz de controlar voluntariamente sua atividade psicológica e
ampliar sua capacidade de atenção, memória e acúmulo de informações.
Constantemente recorremos ao uso de signos. A memória mediada por signos
tem maior capacidade, que a não mediada. Os
signos internalizados são como marcas exteriores, elementos que
representam objetos, eventos e situações. Essa possibilidade de fazer
relações mentais é mediada pelos signos internalizados, permitindo ao
homem fazer relações mentais mesmo na ausência dos objetos. Dessa
forma, percebe-se que os signos não se mantém como marcas externas
isoladas, mas compartilhadas pelos membros do grupo social, o que permite
a comunicação entre os indivíduos e a apropriação da interação
social. O processo de internalização é mediado pela apropriação e
utilização da linguagem. Esta possibilita a interação social entre
homens e a internalização dos signos, permitindo a interpretação dos
objetos, eventos e situações do mundo real, estabelecendo-se assim o
processo de aprendizagem. Para
Vygotsky, segundo MARTA KOHL OLIVEIRA (2000: 42), "...
a principal função da linguagem é a de intercâmbio social: é para se
comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza sistemas de
linguagens." Nesse sentido, a linguagem é entendida como um sistema simbólico fundamental a todos os grupos humanos. É considerada a mais humana das funções cognitivas, pois é através da linguagem que podemos transmitir idéias, planejar ações, expressar sentimentos e transmitir os conhecimentos que aprendemos. Vale dizer que enquanto adultos a nossa mente está organizada pela linguagem. É ela que classifica nossos pensamentos, que constitui nossa memória e que nos possibilita o ato de comunicar. Sabe-se também que a linguagem está estruturada em nosso sistema nervoso graças a um processo de aprendizagem da língua, que é realizado pela transmissão social. A linguagem é um sistema de signos que possibilita o intercâmbio social entre indivíduos que compartilhem desse sistema de representação da realidade. Cada palavra indica significados específicos. É nesse sentido que representa (ou substitui) a realidade. É justamente por fornecer significados precisos que a linguagem permite a comunicação entre os homens. Vimos
então, que a linguagem é a principal mediadora do homem com o mundo e
que desempenha importante papel no processo de humanização, pois sem
linguagem não há aprendizagem. É através da linguagem que o homem cria
a cultura. Destaca-se ainda que é pela linguagem que o homem organiza o
mundo simbolicamente. Vygotsky desenvolveu em seus estudos, os conceitos de nível de desenvolvimento real, nível de desenvolvimento potencial e nível de desenvolvimento proximal. Nível de desenvolvimento real refere-se à capacidade de realizarmos tarefas de forma independente, portanto, às etapas já alcançadas e conquistadas pela criança. Estas são resultados de um processo de desenvolvimento já completado e consolidado. O nível de desenvolvimento potencial refere-se à capacidade de desempenharmos tarefas com ajuda de pessoas mais capazes. Este é importante por dois motivos. Primeiro, por captar não somente etapas já alcançadas, consolidadas, como também as etapas posteriores que, com interferência de outras pessoas, afeta significativamente o resultado da ação individual. Segundo, por atribuir uma extrema importância à interação social no processo de construção das funções psicológicas humanas. Vygotsky
define zona de desenvolvimento proximal como a distância entre o nível
de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução
independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob a orientação de um
adulto ou em sua colaboração com companheiros mais capazes. Para Vygotsky, é muito importante essa possibilidade de atuação no desempenho de tarefas por interferência de outra pessoa, pois, segundo ele, não é qualquer indivíduo que pode, sem a ajuda de outro, realizar qualquer tarefa. E ainda, segundo Vygotsky, o aprendizado deve ser cominado com o nível de desenvolvimento da criança e, para isso, deve se levar em consideração os dois níveis de desenvolvimento: real e mental (potencial), que dão suporte para o conceito de Zona de desenvolvimento proximal. A partir da concepção de que o aprendizado impulsiona o desenvolvimento, podemos conceber a aprendizagem humana como zona de desenvolvimento proximal, pois ela implica na capacidade de suscitar processos evolutivos, que, entretanto, só estão ativos em situações que envolvam relações entre pessoas. A
aprendizagem, conforme esta concepção, é um processo social, que ocorre
por influência de outras pessoas. Entretanto, salienta-se que, para
facilitar sua ocorrência, o professor deverá interferir na zona de
desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não
ocorreriam espontaneamente. Essa interação não necessita ser somente do
professor, mas dos demais indivíduos pertencentes ao processo educativo,
como os colegas, por exemplo. Descrição
do trabalho prático Sujeitos:
Tauane (5), Henrique (6), Mariana (7), Douglas (8) Experimento:
A pesquisa foi realizada, em um condomínio fechado na Zona Leste. Isabel
Amadeu, Silvana das Neves e Annie Baracat, anotaram e observaram a
pesquisa que foi aplicada por Mayra Rossini. Descrição
do Material: Foram usados cartões
coloridos, confeccionados em papel espelho, sendo que a cor estava
presente nos dois lados do papel. As anotações foram feitas
individualmente pelas pesquisadoras citadas acima e comparadas
posteriormente. O questionário usado foi aquele fornecido pela
orientadora do trabalho (Profª Mônica Cintrão). Procedimentos para aplicação: As crianças receberam orientações sobre as regras do jogo de acordo com as etapas do jogo, também fornecidas pela orientadora do trabalho. Respostas
das crianças: Primeira
regra: cores proibidas: amarelo e verde Segunda
regra: não repetir cores
Primeira
regra: cores proibidas: azul e vermelho Segunda
regra: não repetir as cores
Primeira
regra: cores proibidas: marrom e laranja Segunda
regra: não repetir as cores
Gráficos Todas
as vezes que a criança respondeu “Não posso falar” consideramos um
acerto. Tauane
(5)
* Aqui,
nos referimos ao fato da criança ter respondido uma cor que não condizia
com a pergunta, e que ao nosso ver é de fácil percepção. Ex.: Qual é
a cor do Sol? Branco, ou qual é a cor da grama? preto Henrique
(6)
* Aqui,
nos referimos ao fato da criança ter respondido uma cor que não condizia
com a pergunta, e que ao nosso ver é de fácil percepção. Ex.: Qual é
a cor do Sol? Branco, ou qual é a cor da grama? preto Henrique
(6)
Henrique
(6)
Mariana
(7)
Douglas
(8)
§
Como se apresenta o
desempenho da criança nas
tarefas envolvendo memória de instruções que lhe são oferecidas? Tauane e Henrique estavam preocupados
apenas em ganhar o jogo. Não sabiam quais eram as cores proibidas, e não
perceberam que não podiam falar as cores que já haviam falado uma vez. Mariana saiu-se melhor em relação ao
cores proibidas do que em relação a memorização das cores já faladas.
Para ela era mais importante não falar o proibido, do que repetir as
cores. Ao final de todas as fases, soube responder quais eram as cores
proibidas e sabia que não podia ter repetido cores. Douglas sabia quais eram as cores proibidas
e não as falava, mas não conseguia memorizar as cores que já havia
falado. Percebemos, que sua preocupação em ganhar o jogo era tanta, que
na dúvida de ter falado ou não uma cor, preferia dizer “não posso
falar”. §
Como se apresenta o
desempenho da criança nas
tarefas envolvendo memória de instruções que lhe são oferecidas em que
ela pode utilizar recursos externos consistindo em cartões coloridos? Em nenhuma faixa etária ou etapa, o
fornecimento dos cartões foi útil. As crianças olhavam os cartões
somente no momento em que o pesquisador dizia que agora teriam os cartões
para usar como quiserem, mas não faziam uso dos mesmos, pois não sabiam
como. §
Como se apresenta o
desempenho da criança nas
tarefas envolvendo memória de instruções que lhe são oferecidas em que
ela pode utilizar recursos externos, consistindo em cartões coloridos e
contar com a ajuda do adulto? Tauane sabia que não podia falar as cores
proibidas, sabia também que deveria separar os cartões já falados, mas
não os separava. Só o fazia quando lembrada. Ao falar a cor proibida e
ser questionada do por quê havia falado, se sabia que não podia, ela
apenas respondia “porque sim”. Henrique tinha que ser lembrado o tempo
todo sobre o que deveria fazer. Não retirou nenhum cartão
espontaneamente, só quando lhe perguntavam “o que você tem que fazer
agora?”. Depois de perguntado sobre alguma cor que já havia falado, ele
consultava os cartões antes de responder. Mariana consultou os cartões proibidos
durante todo o jogo, e separou-os imediatamente após a explicação.
Retirou os cartões das cores repetidas sem precisar ser lembrada. Douglas utilizou os cartões sem que
precisasse ser lembrado. Ouviu a primeira explicação e entendeu
perfeitamente. Deixou os cartões embaralhados, e só separou as cores
proibidas quando estas lhe foram perguntadas. Ao separar esses cartões,
colocou-os em lugar diferente daqueles das cores repetidas. §
Há variação do
desempenho da criança, quando comparada consigo mesma nas três
diferentes condições estudadas? Todas as crianças tiveram desempenhos
semelhantes na 1ª e 2ª fases, e melhor desempenho na 3ª fase. Isso
deu-se devido ao uso dos cartões. Acreditamos que Tauane, mesmo não
usando os cartões de forma satisfatória nem na fase 2 nem na fase 3, nem
tendo acertado nenhuma pergunta, obteve melhor desempenho na 3ª fase por
saber que não podia falar determinadas cores e repetir outras. No momento
em que as perguntas eram feitas, ela respondia aleatoriamente, só se
preocupando com a cor daquilo que lhe era perguntado. Após a resposta, ao
lhe perguntar se ela podia ter dito aquela cor, ela dizia que não, pois o
cartão estava no lugar dos proibidos ou dos repetidos. Ao ser questionada
do por quê ela falou a cor já que sabia que não podia falar, ela
respondia apenas “porque sim.”. Isso se dá devido ao fato do
egocentrismo da criança, que acha que a resposta dela é a certa e
pronto, e também pelo fato de gostar de quebrar regras. §
Que estratégias verbais e
não verbais a criança utiliza durante
a execução das tarefas propostas nas condições estudadas? Todos com exceção de Tauane utilizaram
“não posso falar”. Henrique balançou a cabeça negativamente algumas
vezes, e Tauane utilizou-se do “porque sim”. §
Como se dá a interação
com o adulto na condição em que a criança pode contar com sua ajuda? Em
qual faixa etária essa atuação é mais eficiente? Todos mostraram-se participativos e
interessados. Mariana sorriu o tempo todo e Douglas parecia muito
concentrado. Henriques mostrou-se tímido e inseguro e só realizou o
teste na presença do irmão mais velho. Tauane, mostrou-se desatenta. A interação entre a criança e o adulto
é mais eficiente nas idades de 7 e 8 anos. Bibliografia
|