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Vida Cotidiana

Vida Cotidiana  

Por Isabel Amadeu, Mayra Rossini, Silvana das Neves - UNIP

            Alto, magro, discreto, Saramago pode ser visto passeando pelas ruelas de Lisboa, sempre a pé. Dá uma parada para almoçar num dos bairros mais antigos de Lisboa, na Tasquinha - espécie de boteco - que virou restaurante, do amigo Antonio Oliveira, a Varina da Madragoa. Almoça bacalhau com grão-de-bico regado a vinho da casa, entre paredes com fotos que registram seu noivado e casamento com a terceira mulher, a Jornalista espanhola Pilar, realizado ali, na Tasquinha mesmo.  
            Janta no Farta Brutos, no Bairro Alto, e leva para lá todos os amigos, como Sebastião Salgado e Chico Buarque. Pode interromper a galinha à cabidela a qualquer momento para falar com qualquer pessoa que queira conversar sobre qualquer coisa - por exemplo, o significado do nome Saramago. "Uma florzinha silvestre que nasce nos escombros", explica. "Meu pai me evitou o trabalho de procurar pseudônimos." O apartamento na Rua dos Ferreiros, bairro da Estrela, é decorado com objetos toscos e simples, figurinhas de barro do Ribatejo onde nasceu, do Alentejo, do Estremoz, de Moçambique.  

            O ponto de correspondência de Saramago continua sendo a mercearia Mascote, na mesma rua onde tem seu apartamento, dois números acima. Lá, ele faz as compras e alimenta a amizade com os donos, a trasmontana Irene e Manoel, de Valencia do Minho.
            Saramago achou que Lisboa ficou grande demais depois que Portugal, de pouco mais de 10 milhões de habitantes, entrou para a União Européia. "Minha Lisboa já não existe." Então, mudou-se para a ilha de Lanzarote, construiu uma casa simples, como ele mesmo diz, sem excessos nem luxo. Chama-se A Casa, de acordo com o que se lê à porta. O apartamento de Lisboa é alugado.

            O motivo de sua mudança para a ilha de Lanzarote foi devido ao governo português em 1992 decidir que seu livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, não poderia ser candidato ao Prêmio Literário Europeu. O secretário da cultura usou como argumento que o livro ofendia as crenças religiosas do povo português. Essa atitude fez com que Saramago se sentisse desgostoso e deixasse seu país.

Na casa construída em Lanzarote marido e mulher têm, cada qual, seu escritório, e o de Saramago, no segundo piso, deixa ver o mar. As edições portuguesas e estrangeiras de seus livros espremem-se numa estante com quatro prateleiras e bom metro e meio de comprimento. Numa fotografia, uma tabuleta em francês provoca o ateu empedernido: "Dieu te cherche" - Deus te procura. Nesse escritório, Saramago escreve pela manhã e no final da tarde a sua quota diária de literatura, nunca mais de duas páginas, ao som de Mozart, Bach ou Beethoven, e responde a algumas das cartas, cerca de 100, em média, que lhe chegam todos os meses de vários cantos do mundo.

Depois do almoço, já embarcado no hábito espanhol da siesta, ele cochila ou apenas relaxa na sala, no andar térreo. Nesses momentos nunca lhe falta a companhia da fauna canina doméstica: o cão d'água português (espécie de poodle) Camões, a Yorkshire Greta e o Poodle Pepe. À noite, na cozinha, vai repetir-se um ritual: sentam-se os três diante de seu dono, que, faca na mão, distribui rodelas de banana. Pepe foi batizado pelo escritor na esperança de que não sobrasse para ele próprio esse apelido a que, na Espanha, praticamente todos os Josés se acham condenados. Camões assim se chama porque apareceu na casa no dia de 1995 em que Saramago ganhou o Prêmio Camões, concedido anualmente pelos governos de Lisboa e Brasília. Camões adora livros: comeu duas biografias do presidente sul-africano Nelson Mandela, em diferentes línguas, e ultimamente se dedicava a roer as bordas de um grosso álbum de pinturas de Goya.  

 A consagração de Saramago veio com a conquista do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Quando lhe perguntaram o que faria com o dinheiro do prêmio - cerca de R$ 1 milhão -, Saramago retrucou: "Ainda não sei, você tem alguma sugestão? Vou aceitando", brincou. "As pessoas estão habituadas a escritores pobres, mas não perguntam a um jogador de futebol o que ele fará com mais um milhão.  

             "Como não jogo, não vou gastá-lo no cassino; como não tenho ambições, não vou comprar dez piscinas ou quatro carros; antes, vou gastar da maneira que puder e ajudar as pessoas mais próximas de mim", disse. (Playboy – outubro de 1998)

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