PALAVRA, LÍNGUA, FALA, NÍVEIS DE FALA
Palavra: símbolo criado pelo homem para representar seu mundo. O conjunto de palavras comuns a uma determinada sociedade forma a língua. Ex.: língua do Brasil: língua portuguesa
língua da França: língua
francesa Língua: fenômeno social à disposição das pessoas que compõe uma comunidade. A língua portuguesa é usada no Brasil, mas cada pessoa tem uma maneira
própria de falar, que varia de acordo com seu jeito de ser, com a situação
em que se encontra, com o ouvinte etc. Essa utilização pessoal da
linguagem chama-se fala. Fala: é a utilização da língua pelo falante. Dentro de uma mesma sociedade, as pessoas são diferentes entre si. Há diferenças individuais e sociais que revelam variedade de pensamento, preferências, sexo, idade, posição econômica e cultural, grau de escolaridade etc. No ato da fala essas diferenças são evidenciadas. Dependendo da situação, o falante poderia se expressar da s seguintes
maneiras:
Situação de informalidade Predomínio de linguagem popular Þ cheguei em casa Uso de gíria Þ cabeça cheia de grilos Nível de fala: coloquial
Situação de formalidade Predomínio de linguagem culta Þ cheguei a casa Uso de vocabulário apurado Þ reflexões inquietantes Nível de
fala : formal Níveis de fala: diferentes manifestações do falante em diferentes situações. A fala coloquial é usada em situações familiares ou espontâneas, por isso não há preocupação com as regras gramaticais. A fala formal, ao contrário, é usada em situações menos espontâneas, quando não há intimidade entre os falantes, havendo preocupação com o vocabulário e com as regras gramaticais. Veja alguns exemplos:
É importante ressaltar, que um nível não é melhor que outro. Assim formal não significa melhor que informal. O importante é utilizar o nível adequado ao momento da comunicação. Seria inadequado se numa cerimônia, nos dirigíssemos à uma autoridade usando expressões tais como “meu chapa” ou “fala aí grande”. A
LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
O idioma português é o quinto mais falado do
mundo, alcançando cerca de 210 milhões de pessoas. A comunidade lusófona
é constituída por Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe (os cinco últimos na África) e por
Macau, Timor e Goa no Oriente, onde também esteve presente a colonização
portuguesa. O especialista Sílvio Elia tem certeza de que, apesar dos
pesares, o português está em expansão no mundo. Veja os números: 157,0
milhões no Brasil 18,3
milhões em Moçambique 11,6
milhões em Angola 9,8
milhões em Portugal 2,0
milhões de portugueses na Europa 1,1
milhão em Guiné Bissau 406
mil em Cabo Verde 134
mil em São Tomé e Príncipe 140
mil na língua viva em Portugal. A língua portuguesa tem um acervo de 500 mil
palavras: 160
mil na língua viva do Brasil 140
mil na língua viva em Portugal. Há que afirme que uma criança usa cerca de: 1.000
palavras um adulto 2.000 uma pessoa culta 5000 uma pessoa erudita,10.000.
O brasileiro médio usa cerca de 2.000. Segundo lingüistas, hoje em dia falam-se entre 4000 e 6800 idiomas na Terra. Em 100 anos haverá menos de 1000. Em 300, não mais de 24. Provavelmente o inglês, o mandarim e o espanhol, serão os mais falados. A maioria das pessoas será bilíngüe. Hebraico e árabe também sobreviverão devido a religiosidade, como aconteceu no latim. O inglês será certamente a língua franca. Façamos uma referência ao episódio da Torre de Babel:
Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de
falar. Se levarmos em consideração o que dissemos no parágrafo anterior, teremos o efeito contrário a Torre de Babel, pois as línguas tendem a unificarem-se. A existência de duas ortografias oficiais da língua portuguesa, a lusitana e a brasileira, tem sido considerada como largamente prejudicial à unidade intercontinental do português e para seu prestígio no mundo, pois o português de Portugal e o do Brasil, apesar de serem a mesma língua, possuem grandes diferenças. Se essas diferenças acentuarem-se, em pouco tempo teremos a separação dos dois idiomas. Em 1911 foi adotada em Portugal a primeira grande reforma ortográfica, que não foi extensiva ao Brasil. Com o objetivo de se minimizar os inconvenientes desta situação, foi aprovado em 1931 o primeiro acordo ortográfico entre Portugal e Brasil, mas tal acordo não produziu a tão desejada unificação dos dois sistemas ortográficos, fato que levou mais tarde a convenção ortográfica de 1943. Mesmo assim, ainda restaram diferenças entre as duas Academias, o que acabou gerando outros encontros frustantes em 1945, 1971 e 1973. Em 1986, no Rio de Janeiro houve o último encontro entre os sete países de língua oficial portuguesa. Desse encontro resultou um acordo de unificação ortográfica que, por sua relativa radicalidade - em matéria de acentuação gráfica e de emprego do hífen - foi objeto de críticas contundentes, acima de tudo em Portugal. A Academia das Ciências de Lisboa convocou, em 1990, um novo encontro, com modificações na redação das inovações, com as quais as delegações dos sete países concordaram. Esse acordo foi assinado em Lisboa a 16 de Novembro de 1990 e estipula, em seu Artigo 2º: "Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de Janeiro de 1993, de um vocabulário comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas." O Artigo 3º especifica: "O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrará em vigor em 1 de Janeiro de 1994, após depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da República Portuguesa." Até hoje esperamos que esse acordo entre em vigor, pois afinal Brasil e Portugal possuem a mesma língua, e as diferenças fonéticas e vocabulares, que é claro existem, devem ser compensadas pelo bom entendimento, até porque, quem faz a língua, é o povo. A Língua portuguesa sofre mudanças constantemente, como já sabemos. A televisão pode ser incriminada nesse processo, com a valorização do linguajar chulo e pobre, característico de programas humorísticos ou até mesmo via novelas de baixo teor cultural. Sem puritanismos, podemos acusar a utilização frenética de palavrões por intermédio do vídeo como um modismo exagerado, criando uma dicotomia no espírito das crianças. Elas são contidas em casa pela educação mais rígida dos pais, mas têm a atenção despertada para a valorização dessas palavras na TV ou mesmo nas escolas, onde os professores moderninhos incorporam palavras antes proibidas no seu cotidiano. Nunca se escreveu tão mal, mesmo profissionais de nível superior, repetindo erros primários, devido a pouca atenção à nossa forma convencional de expressão. Vejamos agora os processos que modificam a Língua Portuguesa.
VARIAÇÃO
LINGUÍSTICA
Como já
sabemos existe um grande número de variedades lingüísticas, mas ao
mesmo tempo que se reconhece a variação lingüística como um fato,
observa-se que a nossa sociedade tem uma longa tradição em considerar a
variação numa escala valorativa, às vezes até moral, que leva a tachar
os usos característicos de cada variedade como certos ou errados, aceitáveis
ou inaceitáveis, pitorescos ou cômicos. Basicamente temos dois tipos de variedades lingüísticas: · Dialetos: são as variedades que ocorrem em função das pessoas que usam a Língua. · Registros: são as variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua. Variação
Dialetal Os estudos sobre variação lingüística registram pelo menos seis dimensões
de variação dialetal: ·
Territorial ·
Social ·
De Idade ·
De Sexo ·
De Geração Dialetos de dimensão Territorial (Geográfica ou
Regional) São as variações que ocorrem entre pessoas de diferentes regiões em
que se fala a mesma língua. Essa variação acontece: a) pelas influências de cada região sofreu durante sua formação b) porque os falantes de uma região constituem uma comunidade lingüística geograficamente limitada em função de estarem polarizados em termos políticos, econômicos ou culturais e desenvolveram então um comportamento lingüístico comum que os identifica e os distingue. Veja:
Dialetos
na dimensão social Representam as variações que ocorrem de acordo com a classe social a que pertencem os falantes da língua (sócio cultural da comunidade). São consideradas como variedades dialetais de natureza social os jargões profissionais ou de determinadas classes sociais bem definidas como grupos: linguagem de artistas, professores, médicos, mecânicos, estivadores, dos marginais, classe social alta – econômica e/ou culturalmente, favelados etc.
Dialetos
na dimensão da idade São as variações decorrentes da diferença no modo de usar a língua de pessoas de idades diversas: crianças, jovens, adultos e velhos. Durante a vida o falante passa de um grupo para outro, adotando as formas de um grupo e abandonando as de outro. Os jovens neste caso criam a gíria como forma de identificação pessoal ou de grupos em brusca de afirmação e de independência. Ex.: Jovem (cerca de 18 anos): - É cara. Tô azarando uma mina que é mó gostosa e tem um papo super cabeça! Homem (cerca de 40 anos): - Estou interessado numa mulher muito bonita, elegante e inteligente.
Dialetos na dimensão do sexo Representam as variações de acordo com o sexo de quem fala, neste caso existem frases que o homem fala e a mulher não e vice-versa. Ex.: Homem: - Cara. Vamos numa festa comigo? Vou trocar de camisa. Mulher - Gentem!! Fui convidada para uma festa hoje em um lugar fashion. Vai estar cheio de homem bonito. Preciso comprar uma roupa nova, ir ao cabeleireiro e fazer as unhas. Dialetos
na dimensão da geração Representam a denominação de variação histórica, que evita possíveis confusões com a idade que o termo geração pode ocasionar. Ex.: Jornal O Estado de S. Paulo, de 11 de março de 1900: “O dr. Vital Brasil seguiu hontem para Sorocaba, afim de obter aguas remanciais (...) para ser examinada aqui bacteriologica e chimicamente, aver se pode servir o abastecimento de agua daquella cidade.” Jornal O Estado de S. Paulo, de 11 de março de 2000: “O governador do Rio, Anthony Garotinho, disse ontem que a principal causa da morte de 132 toneladas de peixes e crustáceos na Lagoa Rodrigo de Freitas (...) foi o excesso de peixes e não o lançamento clandestino de esgoto.” VARIAÇÕES DE REGISTRO. São classificadas como sendo de três tipos diferentes: ·
Grau de Formalismo ·
Modo Grau
de Formalismo – preocupa-se com a formalidade da escrita (sentido
normativo) e com a estética da mesma. Modo
– entende-se a língua falada em contraposição a língua escrita.
A língua falada usa uma série de recursos do nível fonológico
que no escrito não podem ser usados. Aparecem também truncamentos (de
palavras e frases), como hesitações, repetições e retomadas que não
aparecem no escrito, mas que aparecem no oral por razões diversas. Existem cinco graus de formalismo distintos, tanto na língua oral quanto na escrita. Vejamos:
Oratório: Elaborado, intricado, enfeitado, inteiramente composto de períodos equilibrados e construções paralelas. É usado exclusivamente por especialistas como: advogados, sacerdotes, políticos. Hiperformal: O equivalente escrito do oratório. Uma composição escrita para efeitos grandiosos ou sublimes. Ex.: “Essa liquidação se faz por articulados, pelo que, embora o procedimento a ser observado seja ordinário, consoante se extrai do comando do artigo 609 do Código de Processo Civil, a fase de cognição é limitada à pesquisa do valor devido e deve forçosamente nesse quartel ser exaurida.” Formal (Deliberativo): Usado quando se fala a grupos grandes ou médios em que se excluem as respostas informais. Preparado previamente e mantém de propósito uma distância entre falantes e ouvintes. Se caracteriza por sentenças que são bem definidas, sentenças curtas e por um vocabulário rico em sinônimos, usados para evitar repetições léxicas, mostrando assim uma preocupação do falante com o estilo de expressão. Neste grau de formalidade são usados em Conferencias. Formal: Apresenta características semelhantes ao do deliberativo, numa forma de linguagem cuidada na variedade culta e padrão, mas dentro do estilo escrito. A escrita de bons jornais e revistas , cuidadosamente editado e elaborado e as correspondências oficiais enquadram nesse nível. Ex.: “Domingo de sol no Rio de Janeiro. É cedo, antes das oito, mas o calor já torra a poeirenta Estrada da Boiúna, em Jacarepaguá, bairro distante, quase uma hora do centro.” (Revista
Claudia, maio de 2001, pág 19) Coloquial: Aparece no diálogo entre duas pessoas, ambas participantes ativas, alternando-se no papel de falante e emitindo sinais de realimentação, quando na posição de ouvinte. Sem planejamento prévio, mas controlado, é caracterizado por construções gramaticais soltas, repetições freqüentes, frases bem curtas . Semiformal: Corresponde na escrita ao coloquial, mas tem um pouco mais de formalidade que este. É a forma de língua que encontramos em carta comerciais e de recomendação, declarações, reportagens escrita para posterior leitura por locutores nas rádios e televisões. Ex.: “Declaramos para os devidos fins que Claudia Gonçalves, está
regularmente matriculada neste estabelecimento de ensino.” Coloquial Distenso (Casual): Nesse nível percebe-se uma completa integração entre falante e ouvinte. É caracterizado pela omissão de palavras e pouco cuidado em sua pronúncia, podendo ocorrer mudanças de sons , em seus finais. Um bom exemplo desse nível são aquelas conversas descontraídas entre amigos, colegas de trabalho. Informal: É a troca de correspondência entre membros de uma família ou amigos íntimos. Caracteriza-se pelo uso de formas abreviadas, ortografia simplificada, construções simples, sentenças fragmentadas. Ex.: “Querida Claudia: Estou passando férias maravilhosas. O lugar aqui é lindo...” Íntimo (familiar):
Inteiramente particular, pessoal, usado na nossa vida familiar em que há
a intimidade da afeição. Pessoal: Quase sempre são notas que fazemos para uso próprio. Como recados que anotamos para alguém, um bilhete para a empregada ou uma lista de compras. Ex.: “Fui ao mercado. Volto já!”
VICIOS DE LINGUAGEM Gírias “É lamentável quando alguém simplifica em demasia as realidades complexas: perde a proporção dos fatos e se põe a fazer afirmações desprovidas de qualquer fundamento” (Carlos
Alberto Faraco) Precisamos deixar de lado preconceitos anacrônicos e aceitar o fato de que é falsa a afirmação de que a gíria é linguagem de malandros, marginais, de pobres e excluídos. É falsa também, a afirmação de que rico, educado, bem nascido não fala gíria. Ao contrário do que muitas pessoas alegam, a gíria não empobrece a língua. Segundo o Profº Carlos Alberto Faraco, os brasileiros precisam reconhecer a rica e grande diversidade do português falado e escrito aqui, vencendo de vez o mito da língua única e homogênea. Prega ainda o Profº Faraco, um combate sistemático a todos os preconceitos lingüísticos que afetam nossas relações sociais e que constituem pesado fator de exclusão social. Todavia, para alguns lingüistas, os baixos níveis de educação nos últimos 30 anos, contribuíram para uma expansão da fronteira gírica no país. Segundo teóricos, a gíria não é apenas um conjunto de palavras ou códigos semânticos usados por determinados grupos ou profissões. Afirmam também que o regionalismo não é gíria, muito embora algumas palavras dessa linguagem estejam incorporadas ao patrimônio gírico. Para alguns lingüistas a gíria é um recurso legítimo, empregado pelos brasileiros, que não conhecendo a linguagem padrão, precisam se comunicar, se fazer entender. As gírias tornaram-se algo tão utilizado que, inacreditavelmente, muitos brasileiros reagem com desprezo aos que falam fluentemente a língua, aos que empregam expressões cultas e eruditas em suas comunicações. Até mesmo os meios de comunicação do país renderam-se as gírias, principalmente o rádio e a televisão, e, para justificarem-se, alegam que se não recorressem as mesmas perderiam a audiência. Em razão disso, nivelam por baixo, usando e abusando das gírias, para manterem a audiência. Certo ou errado? Isso é uma questão ética que não nos cabe comentar. Devido ao seu constante uso, muitos vocábulos gíricos estão dicionarizados na língua padrão, embora continuem condenados pela língua culta ou oficial. A língua é dinâmica e apresentam inovações e evoluções através do tempo e , certamente, a gíria falada em determinada época contribui para a inserção de novos vocábulos na língua portuguesa, por isso, como já dito, a gíria contribui para a evolução da língua. A maior parte das pessoas acredita que não fazem uso de gírias, entretanto, se conversarmos ocasionalmente com dez pessoas, possivelmente, sete delas falarão algum tipo de gíria. No entanto, precisamos usar de cautela, pois embaladas pelos bailes funks do Rio de Janeiro, surgiram gírias que conquistaram a elite carioca e invadiram as grandes capitais de maneira assustadora. Em um tempo não muito remoto, mulher “preparada” era aquela que freqüentava a universidade e preparava-se intelectualmente. Hoje no universo gírico, mulher “preparada”, é aquela expert em sexo e está “pronta pro que der e vier.” No início do séc XX, mais precisamente em 1903 surgiu a gíria “gostosa” ( mulher de alta cotação). Quase um século depois surgiram as gírias “filé”, “popozuda”, que têm o mesmo significado de sua antecessora, mas para nós, é muito mais vulgar e inapropriadas, sendo capazes de deixar sem graça até os mais moderninhos. Exemplo disso são os trechos de letras de músicas que seguem:
Por último, é importante frisar que, muito embora, o uso de gíria seja atribuído à pessoas despreparadas, vale a pena lembrar que em algumas obras literárias os escritores também faziam uso de gírias e em alguns momentos as utilizavam como forma de contestação. Vejamos algumas gírias de 1903, que comprovam que a gíria é uma língua viva: Brocha – sem disposição sexual Divina – linda Lábia – astúcia Notório – conhecido Quarentona – mulher velha Xadrez – cadeia Zona – prostíbulo ESTRANGEIRISMOS Os
estrangeirismos sempre estiveram presentes, com maior ou menor volume , na
língua portuguesa, como elementos enriquecedores, emergentes do convívio
cultural dos povos. Palavras e expressões imigrantes decorrem dos rumos
do progresso, em sua maioria, situam-se nos espaços da ciência, da
tecnologia, da diplomacia, e se fazem indispensáveis. Emergem também das
contribuições episódicas da moda, e mais recentemente, da publicidade,
seja como designação de objeto concreto, de técnica, de modos de
pensar, de fazer e de sentir. Muitas delas passam a integrar a língua
transmitida, que se aprende em casa, desde os primeiros anos de vida, língua
falada, viva. Outros simplesmente passam : não vão além da efermidade
do modismo. O maior ou menor volume da presença estrangeira na língua vernácula
vincula-se portanto, à maior ou menor influência que a cultura de um país
possa exercer sobre a cultura de outro. O vocabulário, o léxico se tornam a parte mais sensível ao
estrangeirismo . A palavra sutiã ,
em Portugal seria soutien ,
ainda na forma francesa, mas os derivados , nascidos das oscilações da
moda e dos avanços do mercado internacional, passaram a designar aquela
peça por body ou top. Nas atuais
senhoras de meia-idade, o carmim foi substituído pelo rouge, e o
rouge, na juventude de algum tempo, coverteu-se em blush . A língua
então, acompanha a história da sociedade .
Hoje, no comando o computador. Eletrônica, informática, cibernética. A
informação veiculada de forma rápida e sobretudo na língua inglesa,
que assume destaque dominante por força da cultura hegemônica do novo
império do nosso tempo : a Cultura dos Estados Unidos da América. No momento atual não existe nenhuma pesquisa conclusiva, nenhum estudo
que mostre os níveis das influências nas terras brasileiras. Mas podemos
admitir que a ameaça exista em níveis efetivamente preocupantes, diante
de determinados indícios, indícios esses que são perceptíveis através
dos meios de comunicação de massa. Os meios de comunicação na sociedade de consumo , há muito tempo atuam
em favor da universalização das línguas , que tendem a dominar
sozinhas, ou como segunda língua . Isso é dado
por muitos como certo , a universalização do pensamento único e
a presença unificante do inglês. A língua acompanha a marcha da sociedade que a criou e que dela se vale,
a ameaça da presença dos termos estrangeiros se vincula à maior ou
menor inserção do país soberano na qualificação modernizadora ou pós-modernizadora
do progresso, a língua é apenas um aspecto. Qual a realidade da nossa língua
hoje? Somos oficialmente unilingues ninguém duvida. O português é a
nossa língua comum, consolidada como idioma oficial. Na verdade , o
português brasileiro convive com cerca de cem a cento e vinte línguas
indígenas, em sua maioria ágrafas; para fins de comunicação, convive
também com línguas trazidas pelos imigrantes, notadamente italiano,
japonês, alemão e árabe, usados na comunicação familiar. Um país
unilingue, numa realidade multilingue, com predomínio da língua
portuguesa. Somos uma realidade singular e plural. Como dito anteriormente, a língua
escrita é mais conservadora e tradicionalmente apoiada no registro culto.
A língua oralizada é mais vulnerável à influência externa, na medida
em que as situações de fala abrem-se para as múltiplas variantes sócio-culturais,
que integram essa diversidade acima referida. Como vencer na vida sem saber
inglês ? Os nomes das lojas, os shopping
centers, os fast foods, as deliveries,
povoam os outdors da nossa
cidade. Se mudar isso perde o charme.
Como resistir ao e-mail que quanto mais
sofisticada a pronuncia, mais interessante ? E como não preparar as
mailing-lists para o casamento da filha ? Nosso universo abriga,
obviamente, um número razoável de empréstimos, já incorporados. A
utilização desses milhares de termos depende do domínio que o usuário
tem da escrita e dos instrumentos linguísticos fundamentais . Alguns exemplos destes empréstimos : Best-seller,
blazer, check-up, chip, delivery, dopping, e-mail, fashion, flash, heavy
metal, hobby, home-page, leasing, on-line, off-line, overdose, piercing,
punk, funk, self-service etc. E as aportuguesadas : Bandeide,
beisebol, bife, buldogue, caubói, drible, estresse, futebol, e por aí
vai . Como exemplo a resistência ao
estrangeirismo, podemos citar a França que não permite a influência
estrangeira, a fim de preservar seus costumes e seu idioma. Seria isso
interessante, já que como dissemos, a língua precisa de mudanças para
sobreviver ? O Deputado Aldo Rebello,
acredita que sim pois apresentou um projeto de lei que visa proibir o uso
de estrangeirismos. Essa atitude segundo o linguista Carlos Alberto Faraco
demonstra total desconhecimento sobre o funcionamento da língua e como as
comunidades falantes administram a dinâmica a suas práticas de
linguagem. Faraco afirma ainda que o projeto de Aldo Rebello poderia ser visto apenas
pelo seu lado grotesco ou como um oportunismo devido aos seus evidentes
efeitos na mídia . Devemos deglutir o termo estrangeiro, quando necessário. Vestir de verde-amarelo as palavras e expressões que não encontram contrapartida ou que sejam exigência do progresso científico e tecnológico, ou manter a forma original daqueles que indispensáveis , sejam rigorosamente intraduzíveis. Alguns termos e expressões certamente irão impor-se independente de qualquer controle, e até vão conviver com suas formas naturalizadas. Isso já acontece por exemplo, com shampoo, que se escreve em inglês, e se escreve também com x, xampu , e as duas ainda convivem. Se existe similar para o termo ou construção estrangeira, ou se disputam sinônimos, uma boa prática é dar preferência ao produto brasileiro. Caso contrário, prefira-se a forma aportuguesada, se já estiver coletizada ou consagrada, ou usa-se a palavra no idioma original, entre aspas, e se na escrita à mão, sublinhada. Essa é a prática da tradição. |