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Letras: com todas as LETRAS

Proposta de aula construtivista para alunos da 5ª série do ensino Fundamental (2º bimestre) na área de Língua Portuguesa e sub-área de Leitura, Interpretação e Compreensão de texto.

Por Isabel Amadeu, Mayra Rossini, Silvana das Neves  - UNIP

Eu, etiqueta 

Carlos Drummond de Andrade

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É doce estar na moda, ainda que a moda

seja negar  minha identidade,

Trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia,

tão diversos de outros, tão mim-mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

Ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comprazo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou – vê lá – anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que nos rosto se espelhavam,

e cada gesto, cada olhar,

cada vinco da roupa

resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido,

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrina me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

 

A poesia é uma forma de expressão que fala acima de tudo à emoção.

 

  1. Releia o poema de Drummond e escreva como você se sentiu ao lê-lo.
  2. Vamos investigar o vocabulário do poema?

Abaixo você vai encontrar duas listas. A primeira traz palavras provavelmente desconhecidas. A segunda traz seus significados. Procure descobrir os significados dessas palavras, através do texto e copie, no caderno, a palavra ao lado de seu significado (algumas já possuem o mesmo). Cada acerto vale um ponto.

 

a)     proclama – anúncio

b)     reincidência

c)      premência

d)     itinerante

e)      açambarcando- apropriando-me; monopolizando

f)       logotipos

g)      sentinte

h)      solidário

i)       bizarro – estranho; extravagante; esquisito

j)       comprazo

k)     pérgulas – abrigos em jardim, construídos com duas colunas e uma cobertura

l)        suborno

m)   idiossincrasias – maneira pessoal de lidar com as coisas

n)      estamparia

o)     objeto pulsante

p)     ostentar

q)     retifiquem – arrumem; corrijam

que não pára no mesmo lugar
fábrica onde se imprimem letras, figuras sobre tecidos, metais...
alegro, fico satisfeito
símbolos que representam a marca de algum produto
dinheiro ou objeto de valor que se dá para convencer alguém a fazer algo contra sua vontade ou contra lei
que partilha, que ajuda o outro
exibir com orgulho; alardear
fazer novamente uma coisa que a pessoa sabe que não deve ser feita
alguém que sente as coisas
urgência, algo que não permite demora
objeto com vida

 

  1. Logo nos três primeiros versos encontramos:

 

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome... estranho.

 

a)      Que nome pode ser esse?

b)      A palavra estranho é polissêmica. Escreva os sentidos que ela pode ter.

c)      Por que o nome é estranho? Em qual ou em quais sentidos o poeta usou a palavra estranho?

 

  1. A expressão não provada pode ter mais de um sentido também. Ela pode significar não experimentada ou pode significar não confirmada, não garantida.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

Por este provador de longa idade.

    a)      Reescreva os versos acima, usando cada um dos sentidos que a expressão não provada pode ter.

b)      Pelo que nos diz o poema, somente um dos sentido é possível, ou o leitor pode entender das duas maneiras?

c)      Se Drummond tivesse escrito de alguma coisa não confirmada, o leitor poderia entender de duas maneiras?

 

  1. Encontre no poema outro conjunto de versos onde alguma palavra ou expressão gere duplo sentido para o leitor.

 

  1. Durante a criação do poema, como o autor se sentia diante das etiquetas?

 

  1. Nos últimos versos encontramos:

 Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

 

a)      O que o autor quer mostrar aos leitores ao escrever estes versos?

 

  1. O título do poema é Eu, etiqueta. Esse título foi bem escolhido? Por quê?

 

Objetivos gerais:

 

Desenvolver no aluno a capacidade de análise de propaganda e a perceber negatividade do consumismo;
Familiarizar-se com palavras novas, aumentando seu vocabulário.

 

Quando o aluno se depara com a dificuldade do poema, seu primeiro impulso é negar e resistir. Quando não entende de imediato é comum dizer que não gostou e que “não dá pra entender nada”. Por isso, antes de iniciar a leitura do texto, é necessário que haja uma preparação prévia dos alunos pelo professor, devido ao vocabulário elaborado que o texto possui.

 

 

Estratégias para a preparação da leitura e leitura efetivamente:

 

O professor pode pedir aos alunos que desenhem um boneco em uma folha grande de papel (Kraft). O ideal é que o boneco seja do tamanho dos alunos. Para isso, um dos alunos pode deitar-se sobre o papel para que seu contorno seja feito.

 

O segundo passo é dar a esse boneco um nome, ou seja, os alunos criarão um personagem: Que nome ele terá? Como ele pensa? Do que gosta? Qual sua idade? Como é sua família?  etc. O professor não deve dizer qual o objetivo desta atividade.

 

Por último o professor deverá pedir como lição de casa, que todos procurem e recortem de jornais ou revistas vários tipos de logotipos de marcas de produtos, mas não deve dizer aos alunos para que esses logotipos servirão.

 

No dia seguinte, quando os alunos trouxerem os logotipos, juntarão os mesmos e “vestirão” o boneco.

 

Depois disso o professor deve conversar com os alunos a respeito do que pensam sobre o boneco estar daquela forma, que sensação aquela “roupa de etiquetas” lhes causa.

 

Agora sim, o professor lê o poema de Carlos Drummond de Andrade, fazendo de conta que é o personagem que os alunos criaram. Depois do poema lido, deve-se abrir uma discussão livre em sala para que os alunos digam o que acharam, o que entenderam do poema etc.

 

Objetivos e estratégias das questões propostas:

 

 1ª questão: Como essa questão é pessoal, o objetivo é dar ao aluno um espaço para que exponha seu modo de ser. É importante respeitar a vontade do aluno, e deixar a seu critério ler em voz alta ou não sua resposta.

 

2ª questão: O objetivo aqui é familiarizar o aluno com novas palavras e desenvolver o espírito de competição.

Em grupos de no máximo quatro alunos, eles deverão descobrir a que palavra corresponde cada significado. Os sentidos das palavras neste caso é dado de acordo com o poema e não com o dicionário. O ideal é que façam a correspondência por dedução, e só em último caso consultem o dicionário. O professor deve determinar o tempo da atividade de forma coerente, pois esta atividade requer muita reflexão e a pressão do tempo, neste caso é negativa. Durante esta atividade, é desenvolvido no aluno o pensamento dedutivo e estratégias de solução de problemas.

 

 

§         3ª questão: O autor do poema abusa da polissemia no mesmo. Uma dessas palavras polissêmicas é usada nesta questão pra trabalhar esse tópico, já que trabalhar todos os significados seria impossível. O objetivo aqui é destacar os diferentes jogos de sentidos produzidos pela polissemia das palavras.

No item a o nome poderia ser qualquer um. É muito provável que os alunos dêem nomes de marcas que conhecem. No item b a palavra estranho pode significar: desconhecido, esquisito, que não faz parte de um grupo, misterioso. A partir do resgate do significado das palavras é que se abre a possibilidade de polissemia no poema. No item c, quando os alunos colocarem no contexto do texto os sentidos encontrados, perceberão que todos eles cabem no poema.

 

§         4ª questão: Esta questão dá ao aluno, os sentidos da expressão não provada, afirma a duplicidade de significado que ela assume no poema e pede ao mesmo que observe que, se o poeta tivesse escrito um sinônimo da expressão, já não conseguiria mais obter os mesmos jogos de sentido. O objetivo aqui é fazer com que o aluno perceba que, neste caso, o uso de um sinônimo não é possível.

No item a o objetivo é garantir a concretização dos sentidos da expressão destacada. No item b, ambos os sentidos são possíveis. No item c, se Drummond tivesse escolhido uma palavra sinônima, não haveria mais o jogo de sentidos, e o leitor só poderia entender de uma maneira.

 

§         5ª questão: O objetivo aqui é fazer com que o aluno reconheça a polissemia, o que é bastante desafiador. Depois que cada grupo apresentar os versos e sentidos encontrados, o professor deve abrir a discussão para a classe a fim de ajuda-los a compreender melhor o sentido da poesia e do jogo de palavras.

 

§         6ª questão: O objetivo aqui é que o aluno faça uma leitura crítica, para que verifique a posição do autor no momento em que criou o poema.

 

§         7ª questão: Aqui o objetivo é fazer com que o aluno enxergue a negatividade do consumismo. O professor deve aproveitar para conversar com a classe sobre o tema sem expor muito sua opinião, ou seja, deixar que o aluno se posicione em relação à questão.

 

§         8ª questão: Neste caso, o objetivo é estabelecer a relação entre o título e a significação do poema. É importante que cada aluno exponha sua idéia e opinião a respeito da questão.

 

 Bibliografia

ANDRADE, Carlos Drummond de, Novos Poemas, Record

CARVALHO, Carmen Silvia, Construindo a escrita – Leitura e interpretação de textos, Ática

 

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